CONTESTADO 108 ANOS DO COMBATE DO IRANI


  • 4 de Novembro de 2020

No mês de outubro comemoramos os 108 anos do primeiro conflito armado do contestado, fato ocorrido no ano de 1912 no Irani.

Com a criação da Província do Paraná no ano de 1853, o Governo dessa nova Província passou a contestar junto ao Supremo Tribunal Federal uma área de 48 mil quilômetros quadrados da área territorial catarinense, alegando pertencer primeiro à Província e com a proclamação da República ao Estado do Paraná fato esse que ficou denominado como Questão Contestada.

Além da questão litigiosa entre os dois estados Paraná e Santa Catarina, havia, nas primeiras décadas do século XX, a questão social no meio oeste catarinense, de um lado o capital estrangeiro representado pelos empreendimentos de Percival Farquhar: Estrada de Ferro e a Lumber em Três Barras, e os interesses do Coronéis fazendeiros, e do outro lado, os habitantes mais antigos da região, os Caboclos que contestavam as ações dos primeiros os quais ancorados pelos governos federal e estaduais exploravam as riquezas vegetais da área contestada, alijando do território o Caboclo. Assim visto, haviam duas questões contestadas, o litigio territorial entre os dois estados e a questão social no meio oeste catarinense.

Todavia, até que se chegasse a uma solução para o litígio entre os dois estados foi definido um limite territorial provisório, ficando o oeste catarinense sob a jurisdição do Paraná.

E, no meio oeste, na região de Curitibanos, Caboclos e Coronéis disputavam terras. No linguajar caboclo, em conversa com o Capitão Matos Costa, enviado à região para apaziguar os ânimos: “Nóis só queremos um parminho de terra, porque os coroné querem tanto? ”

Em Curitibanos, nesse ano de 1912 estava ocorrendo uma grande concentração de caboclos aconselhados pelo monge José Maria. Os Coronéis temendo um grande conflito na região solicitam apoio armado do governo estadual catarinense que de imediato os atende, enviando o contingente da Força de Segurança Pública de SC para prender o líder e desfazer o movimento.

Tomando conhecimento dos fatos o monge decide sair da região seguido pelos seus “Pares de França” e outros caboclos, deslocando-se para os Campos do Irani de domínio paranaense para evitar derramamento de sangue.

Entretanto, esse deslocamento foi visto como “Manobra de invasão”. O governo do Paraná, não aguardando a decisão do supremo Tribunal Federal, o qual estava a julgar o litígio entre PR e SC, decidiu mandar suas tropas expulsarem os posseiros. Os caboclos que cercavam José Maria nos campos de Irani estavam em fase de exaltação mística, pois se ocupavam da reza a maior parte do tempo.

A 20 de outubro, o Cel. João Gualberto intima o Monge a comparecer a sua presença para explicar-lhe os motivos do agrupamento armado, alarmando os habitantes da zona. José Maria prometeu ir, mas não foi. Os emissários do comandante, que haviam visto os homens do Monge, tentaram dissuadi-lo de atacar, com os poucos soldados que lhe tinha restado, um bando tão numeroso, mas João Gualberto não os atendeu.

A 22 de outubro se deu o ataque. As primeiras horas do amanhecer, os soldados da vanguarda trocaram tiros com uma guarda supostamente dos fanáticos. A qual se retirou. A tropa chegou no lugar Banhado Grande, onde se daria o combate. O regimento de Segurança do Paraná havia partido de Curitiba com aproximadamente 400 homens, dos quais o Cel. João Gualberto tirou 43. Reunidos estes ao contingente do Ten. Busse somavam uma força de apenas 64 homens, que assim atacaram os fanáticos do Irani. Sob as ordens de João Gualberto, a tropa do governo enfrentou pouco mais de 200 sertanejos. Uns a cavalo, outros a pé, eles evitaram ao máximo o tiroteio e atravessando uma funda canhada onde desapareciam da vista das forças legais, caíram de supetão, a garrucha e a facão de pau sobre os soldados.

O combate terminou com a morte do Cel João Gualberto, com a morte de muitos soldados e com a morte do Monge José Maria. No Irani, o palco desse primeiro conflito ficou conhecido, nas palavras de Vicente Telles: “A vala dos 21”.

Para o Paraná foi o maior conflito armado do Contestado, porém houve um engano, pois não foi o Estado Catarinense que invadiu a área em litigio, mas sim pessoas simples correndo das Forças de Segurança de Santa Catarina. E, para muitos historiadores foi o Primeiro Grande Combate do Contestado.

Lembrando o Prof. Dr. Nilson Thomé “Em Canudos com a morte do Conselheiro acabou a guerra. No Contestado com a morte do Monge José Maria começou a guerra”.

 

Prof. Ms Sandro César Moreira

Historiador