Bodega, bebida e armas: costumes do planalto


  • 25 de Junho de 2020

No Brasil, especificamente na região do planalto catarinense, ainda no século XIX, a bodega (bar ou armazém) representava um espaço de trocas e intenso convívio social. Essas casas de negócios eram locais de inúmeras operações, aonde se vendiam produtos provenientes do litoral – ferramentas, armas, remédios, tecidos e aguardente –, se emprestava a prazo e se comprava artigos da lavoura de subsistência, como feijão, fumo, milho e porcos. Também funcionavam como locais de confraternização entre moradores locais e tropeiros.

 

 

 

Nas primeiras décadas do século XX, para o morador da região de Canoinhas, era ali que estavam as informações, as pessoas e as mercadorias. Na bodega era possível efetuar a troca da erva mate por produtos como sal, pólvora, munição, querosene ou cachaça. Frequentemente eram locais de jogos de azar (dados, cartas) e apostas.

 

 

 

Neste ambiente o traço fundamental da diversão era beber. Beber coletivamente significava ratificar uma amizade ou laços de camaradagem, funcionando como instrumento de aproximação e corroboração de solidariedades, muitas vezes abrandando convenções sociais ou diferenças étnicas.

 


Foto da bodega do Museu Sítio Minguinho, localizado no município de Palmeira, PR/Acervo do autor

 

Paradoxalmente, ao aproximar os moradores da região que convergiam para determinada bodega, acabava incrementando o surgimento de tensões que, algumas vezes resultavam em ajustes de contas violentos, como o caso a seguir: “No dia dez de março de 1930 (segunda-feira), na casa comercial de João Pacheco dos Santos chegou Laudelino Chaves, já em completo estado de embriaguez. Armado de um facão pôs-se a discutir e a desafiar a todas as pessoas presentes, entre as quais o denunciado (Estanislau Ribas), que ali se achava desde algum tempo realizando algumas compras. Depois de muito falar e discutir, Laudelino saiu à procura de seu cavalo e da rua começou a desafiar a todos. Novamente voltou, e quando estava próximo da porta, foi recebido pelo denunciado, que o agrediu com um metro que estava em cima do balcão (…) não conseguindo bater-lhe o denunciado sacou então de um revólver e desfechou-lhe um tiro à queima roupa” (Processo Crime por Homicídio de Laudelino Chaves. Canoinhas, 1930).

 

 

 

 

Laudelino faleceu.

 

 

 

 

Cabe lembrar que a bodega era um ambiente onde as relações e os conflitos despertavam visibilidades através de atributos como a coragem e a defesa da honra, ou mesmo a habilidade em manusear armas.